Particularmente refiro-me aos
“índios” como povos nativos, prefiro esse termo, são eles os verdadeiros donos
dessas terras, nasceram e viveram aqui, são nativos verdadeiros. A História por
muito tempo considerava que nosso país passou a existir somente depois de 1500,
com a chegada do europeu por essas terras, mas hoje a historiografia já mostra
que o Brasil era habitado ha cerca de treze mil anos. Quando os portugueses
chegaram aqui, o Brasil possuía quase cinco milhões de nativos divididos em
cerca de duzentos grupos diversificados com culturas e línguas variadas,
caçando, pescando, cultivando alimentos, viviam em plena harmonia com a
natureza. Não foram compreendidos e respeitados pelos invasores europeus.
Nosso litoral e conseqüentemente
nossa região era habitada pelo grupo
chamado Carijó, da nação Tupi-Guarani,
sua cultura e hábitos não era diferente da maioria dos outros grupos,
viviam do que a natureza oferecia, cultivavam milho, mandioca, inhame e outros
alimentos, segundo alguns relatos eram cerca de cem mil espalhados pelo litoral
sul do Brasil. Foram os primeiros a terem contato com os europeus.
Os relatos mais antigos que citam
nossa região vêm do ano de 1605, quando os missionários Jesuítas visitaram as
tribos na região sul de Santa Catarina, no início eram dois padres, João Lobato
e Joaquim Rodrigues, em 1616 os padres João Fernandes e João de Almeida
visitaram a região, deixaram escritos sobre o modo de vida dos nativos,
relataram que eram cordiais, recebiam bem os invasores.Sua cordialidade lhes
deram um triste destino, no porto de Laguna foram embarcados a força mais de
dez mil nativos para serem escravos nas lavouras de cana de açúcar do nordeste,
houve resistência, seu modo de vida livre fazia com que não aceitassem a
escravidão, foram mortos por isso, no final do século 18 os Carijós
desapareceram de nosso litoral.
Quem dominava a região entre o
litoral e a serra era o grupo nativo chamado Xokleng. Esse povo vivia nas
florestas da região, andavam de um lugar para outro em busca de alimento, a
mata atlântica fornecia tudo o que precisavam para viver. O fim dos xokleng
começou na segunda metade do século XIX quando imigrantes começaram a ocupar o
território dominado por eles, os imigrantes derrubaram as matas, fizeram
plantações, os nativos não conheciam o conceito de propriedade privada, houve
ataques dos nativos contra os imigrantes, os confrontos eram inevitáveis, porém
um lado conhecia o poder da pólvora e da bala, do facão, o outro ainda estava
na “Idade da Pedra”. Segundo o historiador Nivaldo A. Goulart “Eram dois mundos
que se colocavam frente a frente, com valores e visão de mundo opostos desde a
raiz. A luta seria implacável e só um
lado iria prevalecer”. O resultado desse choque cultural foi o extermínio de
forma extremamente violenta de um povo, uma cultura.
Os povos nativos perderam suas
terras, seus alimentos, sua vida, dos quase 5 milhões que viviam aqui na época
do “descobrimento” hoje restam poucos
mais de 800 mil, muitos ainda sofrem com ações violentas, são mortos,
perseguidos, mutilados, a maioria vive na miséria, a cultura do homem branco
ainda não entendeu a forma de vida nos nativos, a liberdade, o contato com a
natureza, ainda olhamos para os nativos com pré-conceito, não respeitamos sua
cultura suas tradições, não bastou invadirmos seu território e quase exterminá-los?